Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Vacinar ou não? Pais em dúvida encontram especialistas em imunização

BBC
Imagem: BBC

Alex Gatenby

03/04/2019 16h17

Mark e Victoria estão esperando o primeiro filho, que nasce em agosto, e estavam em dúvida se deviam vacinar ou não o bebê.

Cada vez mais pais e mães estão ficando confusos a respeito da vacinação dos filhos - muitos deles, influenciados pelo "movimento antivacina" nas redes sociais.

Mas será que uma conversa com especialistas pode ajudar a esclarecer as dúvidas de um casal indeciso?

"Estamos inseguros se devemos vacinar ou não o bebê", diz Mark ao programa da jornalista Victoria Derbyshire, da BBC.

Ele e a mulher, Victoria, estão esperando o primeiro filho, que nasce em agosto. Ela já tem outros dois filhos adolescentes, ambos vacinados.

Especialistas garantem que a vacina tríplice viral - que protege contra sarampo, caxumba e rubéola - é segura, sendo aplicada em milhões de crianças em todo o mundo.

Mas Mark e Victoria, por exemplo, não têm tanta certeza disso. "As pessoas tendem a aceitar as coisas sem questionar", diz ele.

"Quando um profissional diz alguma coisa, você considera aquilo [como verdadeiro]."

Para se informar, eles costumam pesquisar sobre o assunto principalmente na internet.

"É bom fazer sua própria pesquisa, fazer as mesmas perguntas ou questionar as respostas, não importa de onde tenham vindo."

E eles não estão sozinhos neste raciocínio.

Estatísticas da empresa de dados SEMrush, obtidas pelo programa da BBC, revelam um crescimento de 296% nas buscas sobre vacina contra o vírus do sarampo, caxumba e rubéola (tríplice viral) nos últimos 12 meses no Reino Unido, enquanto o termo de pesquisa "antivacina" aumentou 171%.

No entanto, é na internet que circulam muitas informações falsas sobre vacinas - consideradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos fatores por trás do aumento preocupante nos casos de sarampo no mundo - inclusive, no Brasil.

Com base em dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), o Unicef alerta para uma queda no percentual da população imunizada com a tríplice viral a cada ano desde 2015.

'Injetando alumínio'

Victoria e Mark se encontraram com a professora Beate Kampmann, diretora do Centro de Vacinas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, para perguntar sobre uma de suas principais preocupações.

"Por que você acha que é aceitável injetar alumínio em bebês quando a substância é proibida em produtos como aerossóis?"

Kampmann diz que muitas pessoas estão preocupadas com os ingredientes extras usados na composição das vacinas.

"O alumínio é uma parte muito importante das vacinas porque ajuda o que é realmente importante nas vacinas, os ingredientes virais bacterianos, a funcionar bem no organismo", diz ela.

"Do jeito que você fala, parece que estamos dando uma injeção enorme de alumínio no corpo. Não é esse o caso."

"A concentração é de apenas um milésimo do que você encontraria no ambiente natural e do que já temos em nossos corpos", acrescenta a especialista.

Mark diz ainda que a bula da vacina nem sempre é oferecida aos pais antes da aplicação da injeção.

E algumas bulas a que ele e Victoria tiveram acesso alertam que a vacina não deve ser administrada se a criança for alérgica - mas como os pais poderiam saber?

Kampmann esclarece que a principal preocupação de alergia é que algumas vacinas, como a tríplice viral, contêm traços da proteína do ovo.

"Você sabe quando tem alergia a ovo", diz ela. "E deve chamar a atenção para isso."

"Na época em que o bebê receber essa vacina em particular, você vai saber ele tem ou não, porque há ovo em muitos outros tipos de produtos."

Metas financeiras

O médico Julian Spinks, da clínica Court View, em Rochester, no Reino Unido, aborda outra preocupação do casal - por que as clínicas no país são pagas a cada vacinação.

"Ficamos nos perguntando se os GPs (sigla para "general practitioner", espécie de clínico geral no Reino Unido) são pressionados para atingir metas de ganho financeiro?"

Spinks diz que eles têm algumas metas, mas que a quantia envolvida é relativamente pequena.

"O valor que recebemos por vacina é de cerca de 10 libras (cerca de R$ 50)", revela o médico.

"Quando você cobre todos os custos que temos, que envolve o registro de pessoas, pagamento de enfermeiras, funcionários, e assim por diante, mais da metade desta verba vai embora."

"Então, na verdade, sendo realista, é uma quantia muito pequena de dinheiro que recebemos."

Opcional ou compulsório?

Mark e Victoria também ficam incomodados com a suposta rapidez do sistema de saúde público do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) na hora de oferecer vacinas - sem explicar todos os possíveis riscos.

"Não acho que haja omissão de informação, [mas] talvez as pessoas pudessem obter mais", avalia Spinks.

"Uma das dificuldades é que muitos dos sites antivacinação levantam questões muito obscuras, que seriam impossíveis de esclarecer em um pequeno folheto."

"Isso não significa que não vamos responder a perguntas."

"Por que, então, não é explicado claramente aos pais que as vacinas são opcionais?", questiona Mark.

Spinks afirma que sempre avisa aos pais que a imunização é voluntária, apesar de recomendar fortemente.

"Em última análise, é uma escolha dos pais", diz ele, "mas eu tenho preocupações porque acredito que a imunização protege, protege seu filho e também protege as crianças ao seu redor, por causa disso, na verdade, impede a propagação do vírus de uma criança para outra."

No Brasil, a tríplice viral faz parte do Calendário Nacional de Vacinação, sendo oferecida gratuitamente nos postos de saúde.

Os pais que deixam de levar os filhos para a vacinação obrigatória correm o risco de ser multados ou processados por negligência e maus tratos, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que "é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias".

Para Mark e Victoria, a conversa com os especialistas foi "esclarecedora e informativa".

"Ficamos satisfeitos que os profissionais tiveram empatia", diz Mark, "e sentiram que precisa haver mais informações disponíveis e treinamento para profissionais de saúde".

"Espero que outros pais agora se sintam confortáveis a seguir em frente."

SIGA O UOL VIVABEM NAS REDES SOCIAIS
Facebook - Instagram - YouTube