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A terapia genética que pode barrar 'causa mais comum de cegueira'

Fergus Walsh
Imagem: Fergus Walsh

19/02/2019 18h31

Uma mulher britânica se tornou a primeira pessoa no mundo a ser submetida a uma terapia genética que tenta deter a forma de cegueira mais comum no Ocidente.

Os cirurgiões injetaram um gene sintético na parte de trás do olho de Janet Osborne em uma tentativa de impedir a morte de mais células.

É o primeiro tratamento a atacar a causa genética subjacente da degeneração macular relacionada à idade (DMRI).

"Tenho dificuldade de reconhecer rostos com meu olho esquerdo porque minha visão central está desfocada. Se esse tratamento for capaz de impedir que isso piore, vai ser incrível", diz Osborne à BBC.

O tratamento foi realizado com anestesia local no mês passado, no Oxford Eye Hospital, na cidade homônima, no Reino Unido, pelo médico Robert MacLaren, professor de oftalmologia da Universidade de Oxford.

"Um tratamento genético precoce para preservar a visão em pacientes que, sem intervenção, perderiam a visão seria um tremendo avanço na oftalmologia e certamente algo que espero para um futuro próximo", afirmou MacLaren.

Osborne, de 80 anos, é a primeira de 10 pacientes com DMRI a participar de um tratamento experimental de terapia genética, desenvolvido pela Gyroscope Therapeutics, com financiamento da Syncona, fundo de investimentos da Wellcome Trust.

O que é DMRI?

A mácula é a parte da retina responsável pela visão central e de pequenos detalhes.

Na degeneração macular relacionada à idade, as células da retina morrem e não são renovadas.

O risco de desenvolver DMRI aumenta com o passar dos anos.

A maioria dos pacientes, incluindo todos os participantes do tratamento experimental, apresenta o que é conhecido como DMRI seca, em que o declínio na visão é gradual e pode levar muitos anos.

Já a DMRI úmida pode se instalar subitamente e levar à perda rápida da visão, mas pode ser tratada se for diagnosticada logo.

Como a terapia genética funciona?

À medida que algumas pessoas envelhecem, os genes responsáveis pelas defesas naturais do olho começam a apresentar anomalias e a destruir as células da mácula, levando à perda da visão.

Uma injeção é aplicada na parte de trás dos olhos, introduzindo um vírus inofensivo que contém um gene sintético.

O vírus infecta as células da retina e libera o gene.

Isso permite que o olho produza uma proteína destinada a impedir que as células morram e a manter, assim, a mácula saudável.

Em estágio inicial, no Oxford Eye Hospital, o teste foi desenvolvido principalmente para verificar a segurança do procedimento e está sendo realizado em pacientes que já perderam uma parte da visão.

Se o tratamento for bem sucedido, a meta seria tratar os pacientes antes que tenham perdido qualquer percentual da visão, em uma tentativa de deter a DMRI no início.

Isso teria um impacto grande na qualidade de vida dos pacientes.

Expectativa para os resultados

É muito cedo para saber se a perda de visão no olho esquerdo de Osborne foi interrompida, mas todos que participam do teste terão a visão monitorada.
"Ainda gosto de praticar jardinagem com meu marido, Nick, que cultiva muitas verduras e legumes", conta Osborne.

"Se eu puder continuar descascando e cortando os legumes, mantendo meu atual nível de independência, sem dúvida vai ser maravilhoso."
Já existe um tratamento de terapia genética bem-sucedido para outro distúrbio ocular raro.

Em 2016, a mesma equipe de Oxford mostrou que uma única injeção poderia melhorar a visão de pacientes com coroideremia, que, do contrário, ficariam cegos.

E, no ano passado, médicos do Moorfields Eye Hospital, em Londres, recuperaram a visão de dois pacientes com DMRI implantando um curativo de células-tronco sobre a área danificada no fundo do olho.

A expectativa é que a terapia com células-tronco possa ajudar muitas pessoas que já perderam a visão.

Mas o tratamento experimental de Oxford é diferente porque visa a combater a causa genética subjacente da DMRI e pode ser eficaz em deter a doença antes que as pessoas fiquem cegas.

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