4 mitos sobre o HPV, vírus de transmissão sexual que afeta muitas pessoas
Altos níveis de vergonha e desconhecimento estão associados ao HPV, que é sexualmente transmitido e afeta a maioria da população. É o que mostra uma pesquisa recente, realizada pelo Jo's Cervical Cancer Trust, entidade de apoio a quem tem câncer do colo do útero no Reino Unido.
Apesar de ser a infecção sexualmente transmissível mais comum, o estudo revela que ainda existe um estigma em torno da doença - que pode ter consequências mais sérias do que o próprio HPV (Papilomavírus humano).
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Uma das conclusões mais preocupantes é que muitas mulheres não realizam o papanicolau, exame ginecológico para diagnosticar a doença, justamente por conta desse estigma.
Das 2 mil participantes da pesquisa, metade disse que se sentia envergonhada e perdeu o interesse pelo sexo por ter contraído o vírus.
Além disso, 35% das entrevistadas responderam que não tinham ideia sobre o que era HPV, enquanto cerca de 60% afirmaram acreditar que era equivalente ao câncer.
No Brasil, o Ministério da Saúde divulgou em 2017 dados preliminares do Estudo Epidemiológico sobre a Prevalência Nacional de Infecção pelo HPV, mostrando que a prevalência do vírus na população brasileira é de 54,6% - sendo que 38,4% apresentaram HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer.
"Quando recebi a carta com o diagnóstico de HPV, eu não sabia o que era, então procurei na internet e descobri que era uma doença sexualmente transmissível. Pensei imediatamente então que meu parceiro tinha me traído", disse Laura Flaherty, de 31 anos, cuja história é muito parecida com a de muitas entrevistadas.
"Eu não sabia nada sobre o assunto. Me senti suja. Levei um tempo para entender que o vírus pode ficar inativo por muito tempo e que é bastante comum. Ninguém próximo a mim sabia disso", acrescentou Flaherty, que foi diagnosticada com câncer do colo do útero em 2016.
O estudo mostrou que há uma necessidade urgente de disseminar mais informações sobre o HPV, uma vez que o conhecimento é capaz de salvar vidas.
Derrubando os mitos sobre HPV
Mito 1: 'HPV é transmitido apenas sexualmente'
A transmissão do HPV acontece geralmente por meio de relações sexuais sem proteção, mas também pode ocorrer pelo contato com a pele ou mucosas infectadas.
Mito 2: 'HPV é um sinal de promiscuidade'
Estimados 80% dos seres humanos vão contrair o vírus em algum momento da vida. É muito fácil ser contaminado e passar adiante - e você pode ser contagiado na primeira vez que tiver qualquer tipo de relação sexual.
Mito 3: 'HPV significa que tenho câncer'
Existem pelo menos 200 tipos de HPV. Cerca de 40 deles afetam a área genital, o que significa apenas que eles residem nessa área. Alguns causam sensações incômodas, mas inofensivas, como verrugas genitais. Cerca de 13 tipos são considerados de alto risco e podem causar câncer do colo do útero, além de outros cânceres genitais, assim como câncer de boca e garganta - mas é mais raro.
Mito 4: 'Se você tem HPV, vai saber'
O HPV não apresenta sintomas e, na maioria dos casos, o sistema imunológico libera o corpo da infecção. O exame de papanicolau identifica quaisquer células anormais.
Um dos objetivos é mudar a mentalidade das pessoas sobre o HPV. E acima de tudo, como a fundação Jo sugere, incentivar que as mulheres falem mais sobre o tema.
"Fazer exame preventivo, para ver se você tem HPV, é a maneira mais eficaz de identificar se você corre risco de desenvolver câncer do colo do útero", diz Robert Music, presidente da Jo's Cervical Cancer Trust.
"No entanto, o HPV pode ser confuso, por isso temos que encontrar uma maneira de normalizar o conceito, para que as pessoas não se sintam envergonhadas em dizer que têm o vírus."
Incidência
O HPV é responsável por 99% dos casos câncer de colo de útero, o terceiro mais frequente entre as mulheres no Brasil, o quarto que mais mata - e um dos poucos que pode ser prevenido com vacina.
Desde 2008, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) aprovou a vacina contra o HPV, houve um rápido declínio no contágio e na incidência da doença em algumas partes do mundo.
Segundo a OMS, a vacina reduz em 70% as chances de desenvolver câncer do colo do útero se for aplicada em jovens entre 12 e 26 anos, antes do primeiro relacionamento sexual.
E, em algumas áreas onde as vacinas foram administradas, o benefício é evidente.
Por exemplo, um estudo do Royal Women's Hospital, na Austrália, constatou uma redução de 86% nas infecções por HPV em jovens de 18 a 24 anos que receberam três doses da vacina, e de 76% entre aqueles que tomaram apenas uma dose.
No Reino Unido, os números são semelhantes. As infecções diminuíram entre adolescentes de 12 a 18 anos.
Já na América Latina, o cenário é diferente. Apesar da rápida implementação da vacina em seus primeiros anos, a cobertura foi reduzida devido a algumas anomalias que foram atribuídas à sua aplicação.
No Brasil, desde 2014, o SUS (Sistema Único de Saúde) oferece gratuitamente a vacina contra o HPV para crianças e pré-adolescentes de 9 a 14 anos, seguindo recomendação da OMS. Mas, até hoje, apenas 48,7% das meninas nesta faixa etária foram imunizadas.
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