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Escola cria 'sala calmante' para aliviar tensões em área violenta dos EUA

CIDADE DA FILADÉLFIA
Imagem: CIDADE DA FILADÉLFIA

Paula Adamo Idoeta - @paulaidoeta - Da BBC Brasil em São Paulo

26/04/2018 08h07

Quando Embaba, de 12 anos, precisar "esfriar a cabeça" durante o período de aulas, terá um espaço para onde ir dentro da escola em que estuda, na cidade de Filadélfia (EUA).

"Às vezes meus colegas gritam e ficam muito irritantes. Por que eles precisam falar tão alto?", diz ela à BBC Brasil. "Então pedi ao professor para ir à sala calmante para desenhar, ler um pouco. Eu me senti melhor. Me ajudou a ver meus colegas sob uma nova perspectiva."

A sala calmante (em inglês, calming room) onde Embaba pode se refugiar é um espaço recém-inaugurado pela Tilden Middle School, que abriga alunos de 10 a 15 anos no sudoeste da Filadélfia. Ali há sofás e pufes para leitura, uma mesa com livros e papéis de desenho e pintura, iPods carregados apenas com músicas tranquilas e um círculo de conversa.

O novo espaço vai permitir "breves descansos" para aliviar momentos de tensão dos alunos e ajudá-los a enfrentar traumas, a recuperar a concentração e a simplesmente refletir sobre suas emoções cotidianas, explica à BBC Brasil Brian Johnson, diretor da escola.

"Temos estudantes impactados pela violência, mas também pelo divórcio dos pais e pelas circunstâncias da vida. E precisamos ensiná-los a processar o que estão sentindo."

A Tilden fica em uma área com níveis proporcionalmente altos de violência e abriga alunos de baixa renda. Johnson conta que, no dia anterior à conversa com a BBC Brasil, um menino e seu pai haviam sido baleados a poucas quadras dali. Uma semana antes, uma garota de 16 anos havia sido vítima de violência semelhante ali perto.

"Sem dúvida isso impacta os alunos. Eles moram aqui, e o que acontece aqui é parte da vida deles. Não é uma desculpa para não ir bem (na escola), mas é algo que precisa ser levado em conta na educação", opina o diretor.

A preocupação em ajudar os alunos a lidar com essas questões - e as consequentes dificuldades de concentração e piora no desempenho acadêmico - foi o embrião da sala calmante.

Propósito

O projeto foi financiado pela empresa parceira Cigna, que participou da elaboração do conceito da sala calmante com a ajuda de psicólogos, médicos especializados e dos próprios alunos e professores - esses últimos também poderão se refugiar ali de vez em quando.

"Projetamos atividades específicas para o cérebro adolescente, que ajudassem os alunos a focar a mente", explica Peggy Banaszek, responsável pelo projeto na Cigna. "Os médicos nos disseram que a pintura e o desenho, por exemplo, permitem que a mente volte a se concentrar. E o espaço de leitura tem almofadas felpudas, cujas texturas trazem conforto, como (sentimos) ao acariciar um cachorrinho."

Por isso, dizem Johnson e Banaszek, o projeto pode ser replicado em qualquer lugar do mundo - inclusive escolas em áreas de violência no Brasil -, mas só terá efeitos positivos se for projetado com propósitos claros em mente.

"Quem for planejar algo semelhante deve pensar em o que quer obter. Não se trata apenas de uma sala calma, mas de uma estratégia para ensinar os alunos a lidarem com suas emoções e aprenderem sobre si mesmos e, assim, obterem uma melhora acadêmica e crescimento pessoal", explica o diretor.

A escola Tilden já conta com terapeutas e especialistas em gerenciamento de raiva, e a ideia, diz Johnson, é que esses profissionais ajudem os alunos a identificar momentos de estresse em que seja bom dar uma "escapada" à sala calmante. Durante o horário do almoço, o espaço terá também aulas de ioga.

Como a sala foi inaugurada em abril, a escola ainda está organizando as regras de uso do novo espaço. Johnson espera ter um professor disponível a monitorar a sala na maior parte do tempo. E destaca que a sala calmante não vai ser uma forma de os alunos fugirem das aulas, mas sim de estarem mais aptos a acompanhá-las.

"Ali, eles poderão fazer intervalos de 10 a 30 minutos, para se acalmar, recuperar o fôlego e a concentração. Mas nossa expectativa é de que, depois disso, eles voltem para a sala de aula, mais produtivos, mais respeitosos. Não haverá restrições (ao uso), mas é um lugar aonde ir uma, e não cinco vezes ao dia."

Para o menino Robel, de 10 anos, "é um bom espaço para relaxar". Ele já foi três vezes ao local, para ler.

"Quando há muito barulho ou uma briga na escola, eu posso ir para lá. Ajuda a limpar a minha mente."