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Dicas para usar melhor a sua mente


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Como usar a música para render mais em diferentes tarefas

Música pode ser boa aliada da concentração, se usada da forma correta - Denis Freitas/UOL VivaBem
Música pode ser boa aliada da concentração, se usada da forma correta Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

Colaboração para UOL VivaBem

20/11/2018 14h53

Sua música preferida pode deixar qualquer tarefa chata mais suportável: a espera no consultório médico, a faxina de casa e até enfrentar congestionamento. O motivo é muito simples: você se distrai.

Mas e quando a ideia é se concentrar no trabalho ou nos estudos, será que o silêncio ainda é o melhor amigo do homem? E para arrumar inspiração para escrever ou criar uma campanha publicitária? Não é de hoje que as pessoas pensam em usar a música como estimulante para a mente.

A partir da década de 1990, por exemplo, muita gente começou a falar no “Efeito Mozart”, depois que pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram que a Sonata para Dois Pianos em Ré Maior ajudava adolescentes a se saírem melhor em testes de raciocínio espacial. Surgiram até CDs com música clássica para deixar bebês mais inteligentes.

Estudos posteriores sugeriram que, na verdade, ouvir qualquer música agradável pode melhorar o rendimento numa tarefa pelo simples fato de gerar prazer. Hoje, com ajuda da tecnologia, é possível visualizar mudanças na atividade cerebral durante o processamento de estímulos sonoros.

Portanto é provável que, num futuro próximo, talvez seja possível eleger com mais precisão quais as melhores músicas para relaxar, estudar ou trabalhar. Por enquanto, você pode fazer seus próprios experimentos e descobrir o que funciona melhor no seu caso.

Mas antes de colocar o fone de ouvido e apertar o “play”, veja o que dizem alguns estudos e especialistas sobre os efeitos que determinadas melodias ou ruídos podem ter no desempenho em diferentes tipos de tarefas.

  • Denis Freitas/UOL VivaBem

    Cuidado com as informações a mais

    Aprender algo novo exige que seu cérebro processe informações. Se você estiver ouvindo uma canção cheia de estímulos, haverá mais dados para serem absorvidos. "Sempre que há muito estímulo fica difícil manter a atenção", explica o neuropsiquiatra Pedro do Prado Lima, do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer). E quanto mais novo para você é o estímulo, mais difícil fica o controle, segundo o especialista. Diversos estudos científicos indicam que estudar em silêncio é melhor, mas que a música pode ser uma distração menos prejudicial do que gente falando e TV ligada. A presença de uma letra na música é um combo de estímulos: o cérebro tem uma tendência natural a processar o que está sendo dito, mesmo que você não domine o idioma e não faça esforço para se concentrar na letra. Esse trabalho ocupa o mesmo tipo de recurso necessário para assimilar a leitura. O pesquisador Nick Perham, da Universidade Metropolitana de Cardiff, no Reino Unido, colocou alunos para estudar para uma prova com diferentes tipos de música e depois analisou os resultados, descritos no Applied Cognitive Psychology. Quem ficou em silêncio se saiu 60% melhor que os estudantes que ouviram músicas com letra. Já quem escutou música instrumental ficou no meio do caminho, então essa seria a segunda melhor opção.

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    Forma de disfarçar os barulhos

    Para muita gente, ouvir música é a única forma de se livrar do barulho dos ambientes de trabalho abertos, com muita gente. Andréa de Paiva, professora de neuroarquitetura e consultora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que o objetivo desses espaços é facilitar a troca de ideia entre os funcionários, mas que eles são péssimos para quem precisa se concentrar. Alguns escritórios até utilizam os chamados ruídos brancos (um som de fundo constante, como de ventilador ou ar condicionado) para mascarar o burburinho. O uso de sons da natureza é outra estratégia interessante. Um experimento feito no Instituto Politécnico Rensselaer, nos EUA, constatou que o barulho de água fluindo em um riacho melhorou o desempenho nas tarefas e ainda trouxe maior satisfação aos funcionários.

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    Sons terapêuticos

    Outra recomendação da neuroarquiteta são músicas especialmente projetadas para melhorar o foco. ?Temos padrões de ondas cerebrais que se alteram ao longo do dia, e há certos padrões sonoros que podem ajudar as pessoas a entrar no estado desejado?, explica a especialista. Ela cita o Brain.fm, serviço oferecido por uma startup americana que, com inteligência artificial, produz músicas com ritmos específicos que ajudariam as pessoas a manter o foco, relaxar, meditar e até dormir. A empresa até recebeu financiamento da Fundação Nacional de Ciência para pesquisar os efeitos das faixas no cérebro das pessoas. Os resultados ainda não foram publicados, por isso é difícil saber se o método funciona ou se é só efeito placebo (o serviço é pago, mas há algumas sessões de graça para quem quiser testar). O serviço utiliza ritmos como uma forma de treinar o cérebro a sincronizar certas frequências de ondas cerebrais. Você já deve ter ouvido a expressão ?entrar em alfa?. Isso significa que os neurônios passam a trabalhar em sincronia, numa frequência que é associada a bem-estar e relaxamento. Para estimular o foco, o alvo é a beta. Delta e theta ocorrem durante o sono.

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    Outras formas de estímulo

    Experimentos com monges budistas já mostraram que a meditação também é um caminho para sincronizar ondas cerebrais. Outras técnicas de estimulação sonora mais antigas também se propõem a alcançar o objetivo, como lembra o neurocientista e músico Kevin Woods, diretor científico do Brain.fm. Um exemplo são as chamadas "batidas binaurais". Elas são produzidas com o envio de dois sons ou pulsos com frequências parecidas para cada ouvido (é preciso usar fone), que resultam em um terceiro som com a frequência que se deseja estimular. Os "tons isocrônicos" utilizam o mesmo conceito, mas podem ser ouvidos sem fone. É possível achar diversos aplicativos e faixas no YouTube ou no Spotify com esses métodos. Há estudos sobre o tema, mas os efeitos desses sons sobre o foco ainda não estão bem estabelecidos.

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    Importância de se deixar levar

    A utilização de sons para fazer os neurônios trabalharem em sincronia promove o que os cientistas chamam de "arrastamento neural". Segundo o pesquisador Adam Safron, da Universidade de Northwestern, até o estado de transe gerado pelo sexo pode ser citado como um exemplo disso. Ele diz, no periódico Sociaffective Neuroscience & Psychology, que o ritmo sincronizado de duas pessoas em busca do orgasmo faz o casal se desligar do resto do mundo, literalmente. De uma maneira mais simples, lojas e restaurantes têm utilizado diferentes estímulos sensoriais, inclusive música, para captar a atenção dos consumidores. Quando você coloca uma música romântica e muda o tom de voz para conquistar alguém, está usando a mesma estratégia de forma inconsciente.

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    Para malhar mais e sentir o poder

    Uma revisão recente de mais de 60 estudos científicos atestou o poder do som para fazer as pessoas se exercitarem por mais tempo e com bom humor. Segundo os autores da Universidade Brunel, no Reino Unido, como todo mundo tem o instinto de acompanhar o ritmo de uma música, escolher faixas com determinadas batidas por minuto (BPM) pode ser útil para fazer alguém acelerar a caminhada ou a corrida, por exemplo. No International Review of Sport and Exercise Psychology, eles sugerem que o desempenho só aumenta quando os exercícios são leves e moderados. Nos treinos de alta intensidade, é só o prazer e a inibição da dor que aumentam (o que, pelo menos, ajuda a manter o desempenho). Se você assiste a grandes eventos esportivos, já reparou que muitos atletas usam fones de ouvido enquanto esperam a sua vez. E que algumas músicas são quase obrigatórias antes de jogos ou competições importantes --eles não tocam "We Will Rock You", do Queen, por acaso. Pesquisadores liderados por Dennis Hsu, da Universidade Norhwestern, testaram os efeitos de mais de 30 faixas nas emoções de diferentes pessoas e comprovaram que músicas são mesmo capazes de gerar uma sensação de poder. O componente responsável por isso, para eles, é o nível de tons mais graves. Mas é difícil negar o efeito do ritmo e até de determinadas letras. Sem contar a questão do condicionamento: como ouvimos sempre certos temas após vitórias, as melodias facilitam a visualização desse desfecho e, assim, a autoconfiança aumenta. E não há nada de novo nisso: povos primitivos já faziam rituais com sons e movimentos antes de entrar em combate.

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    Para ter mais ideias

    Ouvir músicas alegres pode ser uma boa estratégia para quem está em busca de soluções inovadoras, de acordo com pesquisadores das universidades Radboud, na Holanda, e de Sydney, na Austrália. Eles dividiram 155 pessoas em grupos para ouvir certas composições clássicas num processo de brainstorming --alegres, tranquilas, tristes ou nervosas. Uma parte que serviu de controle ficou sem ouvir nada. A primeira turma, que ouviu à Primavera, das Quatro Estações de Vivaldi, teve pontuações mais altas no desafio de apresentar mais ideias, a chamada criatividade divergente. Para a equipe, que publicou o artigo no PloS ONE, essa é uma estratégia barata para melhorar o desempenho de equipes de criação.

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