Líder da sua vida

Fani Pacheco ganhou 21 kg e aprendeu a se amar independentemente do tamanho do shorts, mas emagreceu por saúde

Maria Júlia Marques Do UOL VivaBem, em São Paulo
Ricardo Borges/ UOL

Uma guerreira que não tem medo do paredão

Quem acha que participar do Big Brother Brasil foi o grande desafio da vida de Fani Pacheco está bem enganado. Por sempre aparecer com um sorriso no rosto e fazendo mil brincadeiras --como gritar o famoso bordão: "Uhul, Nova Iguaçu" --, é difícil imaginar que a estudante de medicina cuidou desde cedo da mãe com esquizofrenia, teve depressão, transtornos alimentares, síndrome metabólica e teve que lidar com duras críticas tanto quando engordou, quanto ao emagrecer.

"Vejo que sou uma guerreira diante da minha história. Achava que era humana, mas ter que passar por tantos obstáculos me fez aprender a ser ainda mais humana. Foi uma evolução pessoal muito importante, eu me redescobri depois de uma montanha-russa de acontecimentos negativos que passei", diz

"Aprendi a me respeitar como ser humano, gorda ou magra"

As dificuldades emocionais de Fani ficaram evidentes no início de 2016, em forma de crises de pânico. "Tinha pensamentos ruins, chorava muito, tremia, suava, não queria sair de casa, mas não sabia que aquilo era síndrome do pânico. Cuidei desde cedo da minha mãe, que tinha esquizofrenia. Ela faleceu em 2014 e eu não soube como lidar com o luto, como colocar os pingos nos 'is'."

A situação se complicou e a ex-BBB teve depressão e compulsão alimentar. Ganhou 21 kg e migrou do corpo padrão sex symbol para o de uma modelo plus size. "Nem notei que estava engordando, minha preocupação era o emocional. E engraçado que consideram engordar algo ruim, mas isso me salvou. Aprendi a me aceitar, foi quando construí meu amor próprio e me senti útil pelo meu intelecto, não só pelo meu corpo", conta.

No auge de sua aceitação, vestindo 44 e com 86 kg, uma nova surpresa: "Fui fazer exames e descobri que tinha síndrome metabólica. Podia ficar diabética a qualquer segundo, e isso não admitia." Com pavor da doença, ela fez tratamento com remédios, dieta e atividade física. Voltou a ter os mesmos 65 kg e vestir os shortinhos que usava na casa mais vigiada do Brasil. "E o que realmente importa: meus exames estão todos ótimos, estou zerada".

"Não quero ficar doente. Essa foi minha motivação para emagrecer"

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"Desejava morrer todos os dias. Quem quer morrer não quer ir para a academia, né?"

Desde jovem, Fani não conseguia parar quieta. "Gostava de esporte, fiz natação, jiu-jítsu, musculação, o que estava na moda. Gostava de treinar, então não era difícil manter meu corpo", afirma.

Mas ser magra também não era uma tarefa tão simples, já que a ex-BBB tinha o apelido de "draga" de tanto que comia. "Sempre gostei de comer sem limite! Pizza eu brigava com os namorados e queria a metade. Porém, como malhava muito não tinha como engordar. Brincava que ainda bem que eu gostava de treinar, pois assim podia comer de tudo."

Ao perder a mãe essa energia toda foi acabando. Fani não tinha força para fazer coisas do dia a dia, não queria mais ver ninguém. "Era uma tristeza sem fim, desejava morrer. Tentava lutar e sair ou ir para a academia, mas passava mal, chorava, tinha 'ataque cardíaco', um sentimento muito ruim."

Com o emocional abalado, a ex-BBB desenvolveu compulsão alimentar. Comia três vezes mais e engordou. "Mas não me incomodava com o peso, não queria sair de casa mesmo, queria morrer. A depressão é um poço, temos que prestar atenção e buscar ajuda."

Com ajuda de médicos, Fani começou o tratamento psicológico. "Mas o clique do quanto engordei só aconteceu quando tive que fazer uma foto revivendo o triangulo amoroso do BBB com Alemão e Íris. Antes, achava que tinha o controle, mas quando isso virou assunto na mídia e me chamaram de baleia entendi que não era bem assim", explica. 

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"Vi que não se escolhe ser gordinha saudável ou não, a genética que manda."

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"No auge da minha descoberta de amor próprio, veio a síndrome metabólica"

Em um exame de rotina, quando quis voltar a tomar suplementos e treinar para ficar mais durinha, a ex-BBB foi surpreendida pelos resultados: estava com síndrome metabólica --um conjunto de condições que aumenta o risco de doenças cardíacas, acidente vascular cerebral e diabetes (veja mais no infográfico abaixo).

"Demorei horas na médica até entender o problema. Não conseguia acreditar, sempre malhei, achava que era impossível ter uma doença advinda da obesidade, mas tive."

Fani estava com 47% de gordura no corpo e podia ficar diabética a qualquer instante. "Meu amor próprio começou a gritar: 'Não quero ficar doente, não quero me limitar'. Ainda mais que ficar diabética ali era uma escolha minha, se eu emagrecesse poderia evitar", conta.

Com isso em mente, a estudante de medicina começou um plano com dieta, remédios e a missão de voltar para a academia. Mas ela não queria sofrer, sabendo que estava vindo de um período delicado onde se permitiu comer de tudo, pediu por uma dieta pouco rigorosa para conseguir cumprir até o final e contou com remédios para diminuir o apetite. "Decidi que ia emagrecer, mas no meu tempo. Tinha uma refeição para sair da dieta por semana, mas 'jacava' um dia todo. Parei com a cerveja, mas tomava vinho branco, comia doce."

Voltar para a academia foi um choque. "Já sabia que estava fraca porque não aguentava nem levantar a mala para guardar no bagageiro do avião, achava isso um absurdo, me incomodava." Acostumada a sempre zerar os aparelhos na musculação, ela teve que voltar aos poucos e passar por momentos em que o mínimo de peso já fazia a perna tremer. "Assustei, mas voltar a sentir o prazer de chegar em casa do treino um trapo, tomar uma ducha e ter aquela sensação de prazer é muito bom, foi o que me fez voltar a me exercitar", diz a estudante de medicina.

Os primeiros 7 kg perdidos ninguém notou, mas agora a ex-BBB eliminou todo o peso necessário. "Minha saúde está ótima e os meus exames estão normais. Agora, estou em uma fase pós-emagrecimento para ganhar massa magra. Na alimentação, estou comendo bem natural. Mas, quando quero sair da dieta saio. Se for de madrugada, vou até o posto, compro chocolate e durmo feliz", diz Fani. 

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"Engatinhei para o amor próprio, me senti importante, tive espaço para me colocar em primeiro lugar e aí eu me abracei"

Com a depressão e o ponteiro da balança subindo, a EX-BBB foi sincera nas entrevistas e sem notar mudou o rumo da sua vida. "De brincadeira com um repórter que estava perguntando o que eu faria agora que estava gorda, disse que seria modelo plus size, nem imaginava o quanto isso mudaria minha história".

Acima do peso, Fani viu os caches diminuírem e não conseguiu aceitar. "Aquilo foi me dando força e indignação. Só porque engordei desvalorizei? Eu era a mesma Fani. Mas passei sete meses sem trabalho nenhum até os projetos plus size decolarem", desabafa.

Quando conseguiu trabalhar sem se importar com o tamanho de suas roupas e notou que estava virando inspiração para muitas mulheres que não se encaixavam na beleza padrão, a ex-BBB se redescobriu.

"Quando as pessoas pararam para me ouvir, entendi que não era só um objeto. Tive a dimensão da importância de as pessoas gostarem de você independentemente da imagem. Passei a ter vontade de viver de novo, estava fazendo terapia e fiquei gordinha feliz, de bem com a vida."

A ex-BBB deixa claro que aprendeu a se amar no mundo plus size, mesmo não ligando mais para o peso, entendeu a importância de emagrecer por saúde, não por estética. "Agora me conheço, me respeito. Vou seguir meu caminho vendo o mundo de uma forma ainda melhor."

Ricardo Borges/ UOL

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