Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


É possível uma hérnia de disco diminuir de tamanho?

iStock
Imagem: iStock

Colunista do UOL VivaBem

28/11/2018 04h00

Uma preocupação comum de quem foi diagnosticado com hérnia de disco na coluna lombar é saber se ela vai ou não diminuir de tamanho.

Já expliquei brevemente que nem toda hérnia de disco causa dor ou outros sintomas. Para que isso aconteça, deve haver uma compressão das raízes nervosas que saem da coluna. Considerando esse tipo de situação, será que as hérnias de disco da coluna lombar diminuem de tamanho? Se sim, como --ou porque -- isso acontece?

As hérnias de disco diminuem de tamanho?

Podemos dizer que sim, as hérnias --na maior parte das vezes -- diminuem de tamanho, sim. Existe um grande número de estudos mostrando isso. 

VEJA TAMBÉM

Em diversos trabalhos científicos, pessoas com dor irradiando pela perna fazem um exame de imagem inicial para confirmação do diagnóstico da hérnia e para se mensurar o tamanho e tipo de herniação. Após certo tempo, um novo exame de imagem é repetido e se comparam os dois. Alternativamente, alguns estudos realizaram vários novos exames de imagem ao longo do tempo.

Porém, a redução do tamanho variou conforme o tipo da hérnia.

Como o tipo da hérnia influencia a diminuição?

Hérnias extrusas e sequestradas apresentam maior diminuição do que as protrusões discais. A explicação pra isso está na ruptura do LLP, que tende a ocorrer mais com esses dois tipos de hérnias. 

Hérnia extrusa é a hérnia que é uma hérnia comprida. Já a sequestrada é uma hérnia extrusa em que o pedaço herniado se separou do resto.

Bolas, mas o que é a "ruptura do LLP"?

Nossa coluna lombar tem um ligamento que passa logo atrás e fica bem próximo, quase grudado, aos discos e das vértebras. Ele se chama LLP, ou Ligamento Longitudinal Posterior.

As hérnias extrusas e sequestradas se projetam de forma mais significativa e tendem a romper esse ligamento.

Quando a hérnia rompe o LLP, ela fica exposta a uma região de maior circulação sanguínea e, dessa forma, pode passar por um processo inflamatório mais intenso, sendo então mais facilmente reabsorvida. Essa região de maior circulação se chama "Espaço Epidural Posterior" (EEP).

As protrusões discais são hérnias que se projetam menos, que "não vão muito longe" do disco. Dessa forma, tendem a não romper o LLP, deixando de alcançar o EEP.

E quanto da hérnia diminui?

O que se observa é que 96% das hérnias sequestradas diminuem de tamanho, enquanto o mesmo ocorre 70% das vezes nas hérnias extrusas e 41% nas protrusões. A diminuição acontece, principalmente, no primeiro ano após o diagnóstico.

Quando a hérnia diminui, os sintomas melhoram?

Os estudos não são unânimes. Alguns revelam que os sintomas melhoraram antes de haver uma redução da hérnia no exame de imagem. Outros estudos não mostram essa melhoria.

A explicação para isso talvez esteja numa mudança da consistência da herniação não observada no exame de imagem. Uma hérnia mais rígida pressiona de forma mais significativa os tecidos, enquanto uma hérnia maleável o faz com menos força. Além disso, nem sempre a dor se origina da compressão produzida pela herniação, e sim de condições como fibroses, inflamações e outras.

Vale destacar que quando a hérnia diminui por completo ou de forma rápida, há uma maior tendência a ser observada melhora dos sintomas. Isso nos leva a um paradoxo: o de que as hérnias que tendem a gerar mais compressão e sintomas --extrusas e, especialmente, as sequestradas -- são as que parecem ser reabsorvidas mais rapidamente.

Concluindo...

As hérnias de disco da coluna lombar, na maior parte das vezes, diminuem de tamanho. Embora possa parecer que isso esteja ligado somente ao tamanho da hérnia (quanto maior, mais ela diminui), o aspecto mais importante parece ser a ruptura do ligamento longitudinal posterior, deixando a herniação numa região onde fica exposta a um processo inflamatório mais significativo e, dessa maneira, facilitando sua reabsorção pelo organismo.

Devido a isso, hérnias extrusas e sequestradas tendem a diminuir de tamanho com mais facilidade. E, apesar da melhora das dores e sintomas parecer estar ligada à redução do tamanho da hérnia, isso ainda é controverso, pois a dor pode ter outra origem que não a compressão. Ainda assim, hérnias que diminuem por completo ou de forma rápida parecem promover a melhoria dos sintomas. 

SIGA O UOL VIVABEM NAS REDES SOCIAIS
Facebook - Instagram - YouTube

Referências: 

1. Chiu C-C, Chuang T-Y, Chang K-H, Wu C-H, Lin P-W, Hsu W-Y. The probability of spontaneous regression of lumbar herniated disc: a systematic review. Clinical Rehabilitation. 2015 Feb;29(2):184-95. 
2. Cowan NC, Bush K, Katz DE, Gishen P. The natural history of sciatica: a prospective radiological study. Clin Radiol. 1992 Jul;46(1):7-12. 
3. Matsubara Y, Kato F, Mimatsu K, Kajino G, Nakamura S, Nitta H. Serial changes on MRI in lumbar disc herniations treated conservatively. Neuroradiology. 1995 Jul;37(5):378-83. 
4. Komori H, Shinomiya K, Nakai O, Yamaura I, Takeda S, Furuya K. The natural history of herniated nucleus pulposus with radiculopathy. Spine. 1996 Jan 15;21(2):225-9. 
5. Takada E, Takahashi M, Shimada K. Natural history of lumbar disc hernia with radicular leg pain: Spontaneous MRI changes of the herniated mass and correlation with clinical outcome. J Orthop Surg (Hong Kong). 2001 Jun;9(1):1-7. 
6. Cribb GL, Jaffray DC, Cassar-Pullicino VN. Observations on the natural history of massive lumbar disc herniation. J Bone Joint Surg Br. 2007 Jun;89(6):782-4. 
7. Ramos Amador A, Alcaraz Mexía M, González Preciado JL, Fernández Zapardiel S, Salgado R, Páez A. [Natural history of lumbar disc hernias: does gadolinium enhancement have any prognostic value?]. Radiologia. 2013 Sep;55(5):398-407. 
8. Ahn SH, Ahn MW, Byun WM. Effect of the transligamentous extension of lumbar disc herniations on their regression and the clinical outcome of sciatica. Spine. 2000 Feb 15;25(4):475-80. 
9. Fardon DF, Williams AL, Dohring EJ, Murtagh FR, Gabriel Rothman SL, Sze GK. Lumbar disc nomenclature: version 2.0. The Spine Journal. 2014 Nov;14(11):2525-45. 
10. Grenier N, Greselle JF, Vital JM, Kien P, Baulny D, Broussin J, et al. Normal and disrupted lumbar longitudinal ligaments: correlative MR and anatomic study. Radiology. 1989 Apr;171(1):197-205. 
11. Haro H, Shinomiya K, Komori H, Okawa A, Saito I, Miyasaka N, et al. Upregulated expression of chemokines in herniated nucleus pulposus resorption. Spine. 1996 Jul 15;21(14):1647-52. 
12. Ikeda T, Nakamura T, Kikuchi T, Umeda S, Senda H, Takagi K. Pathomechanism of spontaneous regression of the herniated lumbar disc: histologic and immunohistochemical study. J Spinal Disord. 1996 Apr;9(2):136-40. 
13. Beattie PF, Meyers SP, Stratford P, Millard RW, Hollenberg GM. Associations between patient report of symptoms and anatomic impairment visible on lumbar magnetic resonance imaging. Spine. 2000 Apr 1;25(7):819-28. 
14. Jensen OK, Nielsen CV, Sørensen JS, Stengaard-Pedersen K. Back pain was less explained than leg pain: a cross-sectional study using magnetic resonance imaging in low back pain patients with and without radiculopathy. BMC Musculoskeletal Disorders [Internet]. 2015 Dec [cited 2018 Aug 29];16(1). Available from: http://www.biomedcentral.com/1471-2474/16/374